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Edições precedentes

Entrevista com Beto Novaes

MigrantesCortar 10 toneladas de cana por dia. Este é a obrigação de milhares de trabalhadores rurais no interior do país, boa parte que parte do Nordeste pata o interior de São Paulo. É sobre o dia-a-dia massacrante dessas pessoas que Migrantes se debruça. Com a palavra, o diretor Beto Novaes, que coordena um projeto no Instituto de Economia da UFRJ chamado “Educação através das imagens”, que desenvolve várias atividades com professores das escolas do ensino básico para colocar a produção visual nas escolas.

Além do trabalho nas escolas, Novaes discute com os trabalhadores e movimentos sociais temas relevantes relacionados ao trabalho escravo, trabalho degradante, migrações, trabalho infantil, questão ambiental e resgate de memória das lutas sociais no campo. O tema do novo documentário aparece nesta inteiração. “Por exemplo, agora estamos fazendo um documentário sobre reserva extrativista marinha e preservação de pesca artesanal em Arraial do Cabo, cidade praieira do estado do Rio de Janeiro. Os temas são pautados na relação entre as universidade e os movimentos sociais. Depois deste projeto da pesca artesanal estamos pensando em intensificar a distribuição dos documentários pelo país para que possa gerar reflexão crítica sobre temas particulares da realidade social. Desta forma o tema do próximo documentário está em processo de elaboração, o certo é que não saíra dos temas de abrangência social”.

Toda a produção do núcleo está no site da editora da UFRJ www.editora.ufrj.br. É só clicar no ícone DVD prof. Novaes e depois nas capas dos DVDs para ter acesso a sinopse dos filmes produzidos.

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Como surgiu a idéia de Migrantes?

Beto NovaesMigrantes surgiu das pesquisas realizadas na agroindústria canavieira, que evidenciaram mudanças nas formas de gestão e organização do trabalho por parte das empresas. No que se refere ao corte da cana foram impostos novos padrões de produtividade aos trabalhadores como, por exemplo, cortar 10 toneladas de cana por dia. Este padrão altera a dinâmica do mercado de trabalho e o perfil dos trabalhadores para o corte da cana. Passa-se a contratar trabalhadores jovens e migrantes. Jovens em virtude da força física e pela destreza ao trabalho duro. São contratados aqueles que provem do trabalho no campo, aqueles forjados no trabalho familiar desde a infância. Os migrantes porque ficam sobre controle do patrão durante todo o tempo, mesmo durante o tempo de não trabalho. Diante desta realidade propusemos ao Ministério da Educação apoio para realização de um documentário e um livro sobre a migração deste jovens trabalhadores rurais do Nordeste para o interior de São Paulo. Este documentário foi produzido no Nordeste e em São Paulo e é produto de uma articulação de pesquisadores de quatro universidades federais (UFRJ,UFMA,UFPI,UFSCar).

A relação com os entrevistados foi difícil?

Nossos documentários são produzidos numa articulação da Universidade com os movimentos sociais, pastorais e sindicais. O documentário Migrantes foi produzido com apoio das entidades locais CPT (Comissão Pastoral da Terra), Pastoral do Migrante, Movimento Sindical, Delegacia Regional do Trabalho. O projeto inicial do documentário foi apresentado a estas entidades e redefinido a partir das propostas coletivas. As entidades locais indicam os entrevistados facilitando a nossa inteiração com os entrevistados devido a esta mediação.

Até que ponto o documentarista pode ou deve se envolver com as pessoas que contam histórias?

Nós partimos de um princípio para realização de documentários. Buscamos uma cumplicidade com o entrevistado a medida em que procuramos contar a história tendo como referencia o seu ponto de vista. Na realidade entendemos que é preciso recontar a história de nosso país, das lutas sociais e das trajetórias individuais na perspectiva de colocar estes personagens como sujeitos construtores da história e não coadjuvantes de um processo como os colocam a historiografia oficial. Daí a cumplicidade, a confiança na relação e quebra da formalidade na entrevista.

De que maneira o documentário pode interferir e modificar a realidade?

Depois de pronto estamos organizando lançamentos, debates e distribuição do documentário para trabalhadores, dirigentes sindicais e entidades afins. Já organizamos lançamentos nas regiões de origem destes trabalhadores com farta distribuição de cópias e dando o direito a reprodução do DVD. Esta tecnologia favorece a distribuição do documentário mesmo porque nas casas de pessoas, que vivem na periferia das cidades nordestinas, proliferam a mídia dos DVDs por onde circulam as bandas e shows de músicas preferidas. Neste circuito estamos buscando entrar com nossa produção.

Vocês acompanham o que aconteceu com as pessoas retratadas? Ainda tem contato com algumas?

Depois da finalização do documentário o nosso maior problema é a distribuição para que os trabalhadores tenham acesso e discutam a realidade vivenciada através do uso das imagens. Para tal estamos organizando oficinas de formação de multiplicadores em parceria com outras universidades. Estas oficinas se desenvolvem tendo como material pedagógico o uso das imagens.e o uso da metodologia da história oral para resgate de memória e fatos relacionados ao cotidiano de vida. No primeiro semestre de 2009 vamos realizar 10 oficinas no interior do estado de São Paulo, região de destino destes trabalhadores migrantes, em parceria com professores e estudantes de pós graduação do curso de sociologia da UNICAMP que desenvolvem pesquisas correlatas no agro-negócio da cana. Em 2008 realizamos 10 oficinas nos estados do Nordeste (Maranhão, Piauí, Paraíba) nas regiões de origem destes trabalhadores migrantes. Este desdobramento permite o acompanhamento de algumas pessoas via relação com o sindicato.

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